segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vale à pena nos desvincularmos da ilusão de que temos controle sobre a vida?

Na semana passada, vivi uma experiência muito interessante. No dia em que iria conhecer o novo presidente da companhia, portanto meu novo chefe, era também o dia de despedida daquele que fora meu superior por quase quatro anos, que por sua vez, estaria assumindo a presidência de outra empresa do grupo.

Decidi sair de casa mais cedo para evitar o trânsito complicado de todas as manhãs e garantir chegar no horário, afinal novo chefe sempre gera expectativas e ansiedade.

Como de hábito, aproveito o tempo que passo na direção do meu carro para pensar na vida, conversar com o criador, planejar meu dia de trabalho, etc.

Naquele dia, estava focado no novo chefe e nas mudanças que, com certeza, estariam por vir e de como essas mudanças poderiam afetar a minha vida e da minha família. Você pode imaginar as possibilidades que poderiam existir com essas mudanças. Será que o novo chefe vai querer trabalhar comigo? Será que o velho amigo me convida para a outra empresa?...

Repeti o mesmo caminho que faço há quase quatro anos mas, pela primeira vez, tive uma visão diferente. Pela primeira vez, descendo a serra do Japi, pude ver a estrada dos Bandeirantes se estender por entre os morros e ver o pico do Jaraguá bem longe. Foi a primeira vez que notei esta paisagem. A primeira vez que vi o pico de tão longe.

À medida em que descia a serra, os morros foram se aproximando e se tornando bem maiores, ao mesmo tempo em que o pico do Jaraguá foi desaparecendo da minha visão, como que se escondendo atrás dos montes bem menores. Repentinamente, a única visão possível era de uma estrada que parecia terminar logo em frente, no que poderia talvez ser uma curva. Entretanto, não sabia dizer ao certo para onde esta estrada poderia me levar.

Deixei de observar a paisagem e voltei aos meus pensamentos. O trânsito estava pior do que os dias anteriores. Minha intenção era chegar uns 40 minutos antes da reunião mas acabei chegando em cima da hora, já um tanto estressado.

O dia transcorreu normalmente. Depois de uma reunião durante o café da manhã, passei para as minhas atividades normais até que por volta das quatro horas da tarde nos reunimos novamente, todos os VP’s, o novo presidente e o anterior. Desta feita o presidente anterior anunciou, para surpresa geral, que não iria mais assumir a posição na outra empresa do grupo. Ele anunciou que estava deixando o grupo para assumir a presidência de outro banco. Desapontamentos, ansiedade, angústia, sentimentos de vitória, desilusão, etc. Todos os sentimentos estavam presentes naquele instante. Todos nós sabíamos agora que muita coisa iria mudar em nossas vidas.

O dia terminou e pude retornar ao lar. No caminho, antes mesmo de retornar a rodovia dos Bandeirantes, veio a minha mente a paisagem vista pela manhã e o ensinamento que pude depreender desta experiência.

Somente quando olhamos muito à frente e de um bom ponto de vista podemos ter alguma certeza para onde os caminhos nos levam. Quando achamos que estamos no beco sem saída, uma curva nos indica novas direções e as novas direções nos revelam surpresas que, poderíamos jurar que jamais existiram, devido à nossa incapacidade de enxergar o futuro. Contudo, mesmo sabendo que não podemos prever com certeza, sofremos ainda assim, ao invés de deixar que a vida nos mostre novas possibilidades...

Não posso dizer como esta história poderia lhe ajudar mas, quanto a mim, posso lhe garantir que estou muito feliz por não saber o que vai acontecer amanhã. Afinal, tenho certeza que vai acontecer algo que eu não estava prevendo e, portanto, não irei sofrer por antecipação. Vou sim, viver um dia por vez, sem deixar de pensar no futuro, de planejar, mas sem sofrer por ele.

(Texto escrito por Edson Santos. Atual CEO da Global Payments no Brasil.)

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