A maneira como o nosso
corpo e cérebro lidam com o estresse e ansiedade não mudou muito nos últimos
10.000 anos. Um mecanismo de defesa maravilhoso, ligado ao nosso sistema
nervoso, chamado de reação de luta-ou-fuga é instantaneamente acionado, quando
estamos em perigo. Quando somos confrontados com uma ameaça - real ou percebida
– o nosso corpo é inundado por poderosos hormônios, como cortisol e adrenalina,
que nos impulsionam a entrar em ação. Este foi um dispositivo de sobrevivência
essencial para os nossos antepassados que viviam no tempo da caverna, em um
ambiente inóspito e que, constantemente, tinham que fugir ou lutar com
predadores que tentavam matá-los.
Os advogados não estão
na selva enfrentando estes riscos de morte. Contudo, o organismo reage
igualmente a estas ameaças em uma audiência mais estressante ou numa discussão
mais acalorada em uma reunião. Nestes momentos, nosso corpo responde como se
estivesse sendo perseguido por um leão faminto. Com o tempo, essa ansiedade
crônica provoca a liberação de muitos hormônios de luta-ou-fuga. E essa
liberação prolongada, de acordo com pesquisas, danificam o hipocampo (área do
cérebro envolvida na aprendizagem e memória) e a amígdala (área do cérebro
envolvida na forma como percebemos o medo), ambos associados à depressão.
Viver na selva da
profissão jurídica não envolve enfrentar mamutes, mas gera a mesma reação de
luta-ou-fuga por causa das nossas construções mentais. O medo de perder uma
causa, por conta de um prazo, pode criar um pânico no sistema nervoso tão real
quanto o desespero que sofria um de nossos antepassados enfrentando ou fugindo
de um animal que queria lhe matar.
Advogados, muitas
vezes, são perfeccionistas e terminam despejando uma quantidade demasiada de
energia na maior parte dos trabalhos que realizam. Tais esforços
extraordinários são estressantes para o corpo e mente. No entanto, eles já
sabem de tudo isso, não é? A verdade é que muitos advogados já fizeram os cálculos
em suas cabeças e estão dispostos a pagar o preço por mais dinheiro. Frase
interessante esta última, não? Desta forma, ao final do dia, voltam para as
suas casas esgotados, cansados demais para pensar sobre as implicações de viver
desta maneira. Entram num modo de sobrevivência, no qual sobra muito pouca
energia positiva para investir em si mesmo ou em sua família e, finalmente,
queimam como se fossem um meteorito entrando na atmosfera da Terra.
A síndrome de Burnout
não é apenas uma consequência de tentar se manter num cronograma insano. É
também um resultado de como os advogados realmente pensam. Como o Direito exige
análise lógica e objetiva, além de muita atenção aos detalhes, a profissão
atrai perfeccionistas. Estas pessoas vivem pela seguinte regra: "Se eu não
entregar um trabalho perfeito, irei falhar." Os perfeccionistas tendem a
ser workaholics e, muitas vezes, são vistos como inflexíveis e obcecados
por controle, mas convencidos de que não o detêm, vivem numa eterna busca. E já
que a perfeição não pode ser alcançada, o esforço para isso pode gerar uma
constante insatisfação.
Outra razão, que pode
levar a alguns advogados a experimentarem o burnout é que os seus
valores fundamentais não estão alinhados com os seus próprios comportamentos. Às
vezes, esse problema reflete um conflito psicológico interno, enquanto que em
outros momentos, é um conflito entre os valores do advogado e os da organização
em que ele trabalha.
Além destes dois
pontos citados acima, outros aspectos que podem levar ao burnout são:
• Excesso de compromissos. (o profissional nunca pára, está sempre em
movimento);
• Tem pausas inadequadas e não consegue repousar direito. (o envolvimento
com o trabalho é contínuo);
• Tem ideais irreais.
• Está submetido a constante estresse. (ocasionalmente interrompido por
alguma crise);
• Não tem ajuda ou assistência;
• Sente fadiga crônica por se cobrar tanto;
• Tem forte sentido de responsabilidade, mesmo quando são os outros que
cometem o erro;
• Tem sentimento de culpa em relação à vida pessoal;
• Sente incapacidade (ou uma forte relutância) a dizer não.
No fim das contas é
mais fácil evitar o burnout do que ter que superá-lo. Abaixo, algumas
estratégias capazes de ajudar o advogado a escapar das suas garras:
• Descanse, relaxe, renove-se. Esta é a única maneira de se sustentar ao
longo deste percurso.
• Acabe uma tarefa antes de assumir um novo compromisso ou
responsabilidade. Você não dará conta acrescentando mais um piso no seu
arranha-céu de atividades.
• Aprenda a dizer não e especifique a ajuda que precisa, assim como as
restrições sobre o seu tempo que já está insanamente tomado.
• Defina prioridades e consulte a sua família. O trabalho ocupa um papel
essencial em nossas vidas, mas nunca deve ser prioridade sobre a família.
Esteja disposto a ocasionalmente dizer não para atividades de baixa prioridade,
quando entrar em conflito com aquele tempo de qualidade que teria com ela.
• Ouça os sinais de alerta de estresse do seu corpo, como dores de
cabeça, dores nas costas, tontura, insônia e fadiga inexplicável.
• Corte a pressa e o excesso de preocupação. O estresse é o subproduto
natural de tentar encher um saco de 5kg com 10kg de batata. Faça apenas o que é
razoavelmente possível no tempo existente e com os recursos disponíveis.
• Considere mudar de emprego. Às vezes, a única coisa que você pode
fazer é deixar o seu trabalho e procurar emprego em uma outra organização.
• Considere mudar de carreira. Se está cansado de se sentir cansado
ou de ficar doente, saiba que existem muitos ex-advogados felizes por aí.
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